Nova Iorque (Do enviado especial) - O ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chicoti, alertou hoje, em Nova Iorque, que as ingerências externas são um factor de obstrução aos esforços de mediação e resolução pacífica de conflitos no mundo.
“O respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, o estado de direito e a boa governação são instâncias basilares para que qualquer sociedade humana possa viver em paz e harmonia e são a principal garantia de uma efectiva prevenção de conflitos”,
sublinhou.
O ministro valorizou, deste modo, o tema que preside a presente sessão da Assembleia Geral – “O papel da mediação na resolução pacífica de conflitos”, que revela a preocupação da comunidade internacional sobre a necessidade de uma abordagem integrada desta problemática que afecta a conjuntura actual.
De modo global, o ministro disse que a actual grave crise económica e financeira, que despoletou a mais grave crise social testemunhada pela actual geração, soma-se uma perigosa crise ambiental, de consequências imprevisíveis para o futuro da humanidade.
Trata-se de “uma escalada generalizada de violência e a eclosão de conflitos que, aliados à crise ambiental, estão na origem da mais grave crise humanitária por que a humanidade terá passado desde o fim da 2ª guerra mundial. Em conclusão, vivemos uma situação em que uma perigosa combinação de factores põe em sério risco a estabilidade, a paz e a segurança mundiais”.
Referindo-se ao caso angolano, disse que o país “pagou um preço muito elevado devido a essas ingerências, que alimentaram durante demasiado tempo um conflito fratricida, mas que os angolanos puderam finalmente resolver e, com sabedoria, ultrapassar, com base na magnanimidade, equidade e inclusão”.
Assim, o papel de Angola e a sua contribuição para a paz interna e na região devem ser vistos no âmbito mais amplo da resolução de conflitos, porque conduziram à independência da Namíbia e criaram as condições para uma convivência pacífica numa região em que perdurava a hostilidade extrema e constituía uma ameaça permanente à paz mundial.
Categórico, Georges Chicoti disse, no seu discurso de 20 páginas, que Angola tem servido de referência para a resolução de alguns conflitos no continente africano, e não tem poupado esforços em partilhar essa experiência com outros povos e países.
Neste sentido, considerou importante o reforço do papel do multilateralismo, seguindo a lógica de um novo pensamento de responsabilidade e benefícios partilhados, com base no reconhecimento dos interesses de todas as partes, na concertação e no diálogo e na busca de soluções às questões da paz e segurança internacionais.
Como membro da SADC, CEEAC, Comissão do Golfo da Guiné e da CPLP, Angola, em colaboração com vários parceiros, tem actuado na base de uma diplomacia preventiva, na busca de soluções pacíficas às diferentes crises que têm surgido, como são os casos da Guiné-Bissau e Madagáscar.
Também e’ objecto de preocupação a crise na Líbia, onde disse ser fundamental uma cooperação mais efectiva entre os parceiros externos e a União Africana na busca de soluções concertadas com base no direito internacional e no respeito, para que o pais possa retomar o seu lugar no concerto africano e internacional.
O mesmo se passa em relação ao Sahara Ocidental que, pelos fracos progressos na resolução do problema, permanece uma importante questão na agenda internacional.
O ministro angolano manifestou-se também preocupado com a situação de seca no Corno de África, cujas consequências são mais severas para a Somália, devido à prevalência do conflito armado que acentua a presente crise humanitária, que choca a consciência universal.
Em relação ao Médio Oriente, defendeu a constituição de um Estado Palestiniano independente, que viva lado a lado com o Estado de Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras seguras e internacionalmente reconhecidas.
Chicoti reiterou, por último, a exigência do fim de embargo a Cuba, felicitou a República do Sudão do Sul pela sua admissão como membro das Nações Unidas e manifestou a disponibilidade de Angola em cooperar com o novo Estado no esforço de consolidação da sua independência e desenvolvimento sócio - económico.
Também congratulou-se com a criação da ONU-Mulher, uma decisão que disse dará maior impulso à promoção e emancipação das mulheres e à conquista dos seus direitos legítimos.